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Álbum "Fragmentos": entre contradições e contraste

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  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Por Eshiley Lislaine


Fragmentos surge como um daqueles álbuns que provocam extremos. Com a promessa de explorar e destacar o R&B nacional, Ludmilla alterna entre faixas genéricas, de letras repetitivas, e canções em que aposta em composições mais sentimentais, revelando maior delicadeza e exploração vocal.


Capa do álbum "Fragmentos"
Capa do álbum "Fragmentos"

A estética do álbum explora elementos do afrofuturismo, da cultura da internet, dos games e da própria ideia de distância, tudo envolto em uma vibração analógica que cria uma atmosfera singular. O projeto também utiliza samples da discografia de Elza Soares (1920–2022) e instrumentos associados ao samba, como a cuíca, além de contar com diversos convidados.


Os feats incluem Veigh, Luísa Sonza, Latto, Muni Long e as rappers Ajuliacosta e Duquesas. A cantora apostou em nomes em alta na música brasileira, mas que não pertencem ao universo do R&B — o que soa um pouco contraditório. Faltaram referências nacionais que merecem destaque no gênero, como Refs Nina, Carol Biazin, Budah, Delacruz e Lorena.


Fragmentos também evidencia a proposta de internacionalizar a cantora, reunindo produção realizada no Brasil e nos EUA com nomes renomados do universo R&B, como London on the Track, Los Hendrix, Max Gousse e Poo Bear, profissionais que já trabalharam com artistas como SZA, Justin Bieber, Drake, H.E.R., Summer Walker e Chris Brown.


O primeiro single lançado, “Paraíso”, explora o relacionamento da cantora com a dançarina Bruna e a chegada da filha Zuri. A faixa é profundamente pessoal, quase uma carta de amor ou uma conversa íntima entre as duas. A melodia e a sinceridade da letra — que ecoam também nas vivências de outros casais queer elevaram ainda mais as expectativas para o álbum.


Clipe de "Paraíso"

No entanto, a composição de Fragmentos parece entrar em conflito consigo mesma. Há músicas que soam genéricas, com letras frágeis, como “Dopamina”: “Sou eu, número um da tua vida/ Sou eu que vou por cima e te instiga/ Fui eu quem aumentou tua dopamina/ Fui e-e-e-eu.”Também há refrões que poderiam estar em qualquer hit passageiro da atualidade, como o de “Whisky com Água de Choro”: “Olha eu de copo em copo/ Querendo o teu corpo a corpo/ Bebendo de bar em bar e o whisky com água de choro.” A ideia de beber para esquecer já se tornou um clichê exaustivamente explorado na música pop; aqui, falta emoção, profundidade, falta o diferencial, o toque pessoal que tornaria essas faixas realmente marcantes.


“Calling Me” acaba ocupando um dos pontos mais criticados do álbum, frequentemente citada pela crítica como uma das piores faixas. O dueto com Luísa Sonza, aliado a uma letra em inglês pouco coesa, resulta em uma música que soa desconexa e distante da proposta central do projeto: “Keep up, can you keep up? / You gotta step it up, got me teared up/ All this (all this) got me fed up/ All the same, on my ladder.”


Diante das composições mais superficiais do álbum, “Falta Eu” se destaca como uma faixa autoral e romântica que conta uma história sensível e provoca reflexões. Trata-se de uma canção acústica que se dirige diretamente à amante que a deixou em busca da segurança familiar: “Eu sei que ele te organiza/ Mas eu que bagunço o seu peito/ Você escolheu sua família/ Mas só eu sei te amar.”


As faixas “Pior Parte” e “Coisa de Pele” também se inserem nesse registro mais melódico, apresentando letras mais maduras que aprofundam os fragmentos do romance e das vivências que o cercam.


O álbum ainda traz músicas mais genéricas, porém divertidas, como “Cam Girl”, que brinca com a ideia de um relacionamento à distância. Já “Meu Defeito” surge como uma versão mais melódica, abordando,  de forma bem-humorada, mulheres consideradas “surtadas” e culpadas por amar demais.


Clipe de "Cam Girl"

O título do álbum representa bem seu conteúdo: algo desconexo e fragmentado, dividido entre músicas fracas e outras que realmente podem ser chamadas de R&B. Falta a sensação de completude sobre quem Ludmilla é como artista. Ao buscar tantas referências, a cantora parece perder o foco da própria narrativa. Apesar de algumas faixas fortes, o álbum acaba quebrando as expectativas criadas para essa nova fase.


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