SIX, da Duquesa: Uma quebra de expectativas?
- CTRL POP
- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de set.
Por Eshiley Lislaine

O novo EP da rapper baiana Duquesa, intitulado Six, é uma ruptura da caixa em que até mesmo parte de seus fãs tentou enquadrá-la. Como a própria artista relatou em suas redes sociais no dia 24/08: “Six veio para mostrar a diversidade dos sons pretos e a liberdade criativa da cantora”.Composto por sete faixas: Fuso, Fuso (Remix), Number one, No meu clube, Tão quente, Toda garota como eu =(=), Quantas coisas cabem na minha bag?, o projeto revela tanto a autenticidade quanto a coesão artística de Duquesa. O EP transita com fluidez entre rap, R&B, indie rock e até mesmo house, mantendo a assinatura de seu produtor Go Dassisti, o que traz concordância sonora mesmo com os diversos ritmos.
O primeiro contato com a sequência do EP pode causar estranhamento. As quatro faixas iniciais apresentam sonoridades familiares, o rap, o flow e o melódico do R&B já conhecido pelos seus ouvintes, com letras diretas sobre o ‘corre’ da vida, dilemas pessoais, intenções e desejos da artista.
Lançado em 13 de dezembro de 2024, “Fuso” relata a viagem da cantora para Los Angeles, quando foi indicada como artista revelação internacional no BET Awards. A letra reflete suas experiências nos Estados Unidos, incluindo a adaptação ao fuso horário, além das mudanças em sua vida após o lançamento do álbum Taurus Vol. 2, que alcançou mais de 176 milhões de streams. A combinação de graves e metais, presentes no beat, realça a potência da letra. A faixa também ganhou um videoclipe dirigido por Ryan Monotoshi; no entanto, o primeiro videoclipe foi removido do ar devido à polêmica em que os gestos da cantora foram associados a facções criminosas. No lançamento oficial, o mesmo videoclipe foi relançado com algumas alterações.
Na versão remix, há a participação de TZ da Coronel, trapper carioca. Essa versão traz, no meio da música, a visão do cantor sobre seu destaque na cena, reconhecimento e ações. Apesar de manter o mesmo beat, e compor o relato da Duquesa, o remix não alcança a mesma explosão e intensidade da versão original. Embora interessante pela colaboração, acaba diluindo um pouco a força e o impacto da versão original, que permanece como a mais representativa do momento que a artista vive.
As faixas “No meu clube” e “Tão quente” funcionam como um flashback afetivo, evocando a energia e o senso de pertencimento dos anos 2000. No videoclipe, Duquesa apresenta uma tarde íntima entre amigas que começa de forma despretensiosa e termina de maneira inesperada, unindo humor, suor e movimento. A artista celebra a juventude e a memória coletiva de mulheres pretas da periferia, transformando lembranças em potência criativa. Entre a dança, o riso e a descontração, Duquesa revela outras camadas de sua arte, expandindo seu repertório estético.
A ruptura, porém, acontece na faixa 6, “Toda garota como eu =(=)”, em participação com Iorigun, conhecido no meio alternativo. Aqui, Duquesa se arrisca em um indie rock dançante, que provoca tanto reflexão quanto movimento corporal. É uma sonoridade que flerta de forma enérgica, mas que, paradoxalmente, carrega frescor. Esse deslocamento sonoro gera resistência inicial: soa estranho, justamente porque desafia o padrão no qual se espera enquadrar uma mulher negra do rap, a “baddie” de rima dura e corre ininterrupto.
Mas é exatamente esse o objetivo da artista. Como ela mesma afirmou em suas redes sociais, seu objetivo era romper com a previsibilidade.
“Acredito que vou quebrar as expectativas de muitas pessoas que acompanham o meu trabalho, mas eu preciso ser livre para testar possibilidades e ser feliz comigo mesma.”
O estranhamento provocado por “Todas garotas como eu” encontra resposta imediata em “Quantas Coisas cabem na minha bag”, quando Duquesa dispara:
“Muito pop, pouco preto; Muito rico, pouco preto Mesma coisa, mais do mesmo; Mas você não faz direito; Algum preto tá fazendo”.
A frase é quase um manifesto: negros podem ocupar qualquer espaço, explorar qualquer estética, criar em qualquer ritmo.

Com isso, o EP afirma a liberdade criativa de Duquesa, uma artista que se recusa a ser confinada às expectativas do rap, da crítica ou mesmo de seu público. Ela é força e corre no rap, vulnerabilidade no R&B, ousadia no pop rock e experimentação no house. É pluralidade, e não limitação. Nesse ep, ela nos convida a dançar em diversos ritmos sem perder um compasso que liga tudo: as vivências explícitas e honestas. Assim, Six soa como um debate interno da artista, mas um debate ordenado, em que todas as vozes dialogam, se escutam e, no fim, se reconhecem.






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