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Ferro's Bar: O “Stonewall Brasileiro”

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    CTRL POP
  • 7 de ago.
  • 2 min de leitura

Por Eshiley Lislaine Souza


O movimento lésbico brasileiro surge a partir do primeiro grupo de defesa dos direitos LGBTQIAPN+ do país, o grupo SOMOS, formado em 1978. No início, o grupo era conhecido como movimento homossexual. A organização coletiva abrangia a todos, no entanto, com o crescimento do movimento, começaram a surgir tensões entre os membros.


A partir de casos de machismo por parte de homens gays, as lésbicas sentiram a necessidade de formar um subgrupo para discutir a misoginia e o feminismo dentro do movimento homossexual. Em 1979, surge o Grupo Lésbico-Feminista (LF), que atuou junto ao SOMOS. Após conflitos dentro do grupo SOMOS, o LF se separou da militância conjunta.

A primeira (e única) edição do jornal 1970: Foto pública
A primeira (e única) edição do jornal 1970: Foto pública

O grupo encerrou sua atuação em 1981 devido a problemas de relacionamento dentro da comunidade. Após a dissolução, algumas mulheres decidiram continuar na militância lésbica. A frente dessa nova movimentação estava Rosely Roth e Míriam Martinho. Em 1981 fundaram o Grupo de Ação Lésbico-Feminista (GALF). 


Criado em 1981, o Chanacomchana foi a primeira publicação voltada exclusivamente para lésbicas. Inicialmente publicado como jornal pelo Grupo Lésbico-Feminista (LF), passou a ser distribuído posteriormente em formato de boletim. Grande parte dos textos eram escritos por Míriam Martinho e Rosely Roth.


O local de encontro do Grupo de Ação Lésbico-Feminista (GALF) era o Ferro’s Bar, tradicional ponto de encontro de grupos de esquerda em São Paulo, tornou-se, no final dos anos 1960, um espaço importante para lésbicas, que ali vendiam o boletim chanacomchana.


O dono do bar e os funcionários não gostavam da presença das lésbicas, nem dos folhetos que eram distribuídos, sendo muitas vezes hostis com elas. A situação foi se agravando até 23 de julho de 1983, quando o dono do estabelecimento acusou as mulheres de desordem e tentou expulsá-las do bar. Após esse episódio, as mulheres do GALF organizaram um protesto.


Em 19 de agosto de 1993, encabeçadas por Rosely Roth, Míriam Martinho e Alice Oliveira, realizaram um “happening” (forma artística de intervenção). O porteiro do local tentou barrar a passagem, mas as mulheres forçaram a entrada no bar.

Rosely Roth (1959-1990) lê um exemplar de "ChanacomChana": Acervo Folha de São Paulo
Rosely Roth (1959-1990) lê um exemplar de "ChanacomChana": Acervo Folha de São Paulo

Rosely subiu em algumas cadeiras e discursou sobre as violências enfrentadas pelas lésbicas naquele estabelecimento, exigindo o direito de acesso ao local e à venda do boletim. O protesto contou com o apoio externo de figuras importantes da época e jornalistas. Acuado pelo movimento, o dono do bar cedeu e concordou em permitir a venda do ChanaComChana em seu estabelecimento.


Rosely Roth foi uma figura central no movimento lésbico brasileiro, contribuindo para a criação dos grupos LF e GALF e para manifestações importantes como o levante no Ferro’s Bar. Após seu suicídio em 1990, sua trajetória foi homenageada, e em 2003, o dia 19 de agosto passou a ser o Dia Nacional do Orgulho Lésbico. 

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